Um Zero Amarelo nasceram em 1992, em Braga, como um trio de amigos
dispostos apenas a fazer um punhado de versões de temas que, de algum
modo, os tinham marcado como ouvintes e como músicos. Era, assim, uma
espécie de local de descontracção que lhes permitiria relaxar das
«obrigações» que tinham com os grupos em que estavam envolvidos: o
Carlos Fortes (guitarra) e o António Rafael (baixo) nos Mão Morta, o
António Cunha (voz) na Rua do Gin. Começaram assim a dar concertos em
bares, concertos esses que se multiplicaram e começaram a encorajá-los
não só a continuar, como também a compor originais. Os espectáculos
serviriam para a aquisição de melhor material, com todas as vantagens
que isso lhes poderia trazer, e as composições começaram por ser um
banco de ensaios de novos sons, longe daqueles a que os Mão Morta ou a
Rua do Gin se dedicavam. Era o verdadeiro início de uma aventura de cujo
passado poucos conhecem o rosto mas em que, cada vez mais, muitos
acreditam no futuro. A começar por eles... Um Zero Amarelo, em pouco
tempo, souberam conquistar um estatuto próprio. O que até não é estranho
se pensarmos que a forte componente emotiva dos seus temas lhes
permitem transmitir as suas visões de um modo muito próprio, o que, logo
à partida, os distancia de qualquer convenção sonora. A sua presença em
palco tem vindo, gradualmente, a ser mais apreciada um pouco por todo o
lado, e são já incontáveis os espaços que preencheram com a densidade e
expressividade da sua música, entretanto complementada com a entrada do
Tiago Miranda para o baixo e do Marcos (ambos ex-Dionisus Jr., projecto
oriundo de Guimarães e futuro Loosers) para a bateria, libertando o
Rafael para uma segunda guitarra. Outra característica que os distingue e
os torna únicos é a perfeita articulação métrica dos seus textos, que
nos falam todas de uma estranha espécie de solidão. Se é
reconhecidamente difícil escrever e cantar em português, Um Zero Amarelo
abatem qualquer preconceito e percorrem a língua mãe com uma
clarividência tal que é impossível não reconhecer a sua marcada veia
poética, reforçada pelo jogo de sons melódicos, por vezes, e tortuosos
que se entrelaçam numa simbiose perfeita de emoções contraditórias. Não
são poucas, por esta altura, as vozes que exigem a gravação de um disco
por parte de Um Zero Amarelo. As críticas têm sido muito positivas e não
seria de espantar que a oportunidade surgisse mais cedo do que eles
próprios esperam. Por enquanto gravaram já três maquetas, para se
ambientarem ao trabalho em estúdio e para se poderem promover através
dessa via. Gravaram também uma sessão ao vivo na Rádio Universitária do
Minho, recebida com grande entusiasmo por todos os que com ela tomaram
contacto, o que reforçou a sua reputação de grupo imprescindível para o
futuro da música rock que se faz em Portugal. Esta convicção foi ainda
mais sublinhada com as suas participações em "À Sombra de Deus" e em
"100%", duas compilações onde foi possível encontrar temas seus entre os
melhores quer de uma quer de outra gravação. Na sua carreira, para além
de tudo o que foi já dito, contam ainda com a primeira parte dos
concertos em Portugal dos Gene Loves Jezebel, bem como dos Inspiral
Carpets, para além de um número já incontável de espectáculos, um pouco
por todo o país. Por todas estas razões, e por muitas outras que cabe a
cada um descobrir, é fatal que um dia Um Zero Amarelo seja a maior das
vossas paixões. Não vos neguem a oportunidade de os deixar entrar no
vosso mundo.
Born From Porn/2013
[Pedro Portela, 1998]
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