Ermo é um duo formado em 2011 por António Costa e Bernardo Barbosa que,
apesar da acentuada juventude dos seus membros, ostenta uma
originalidade bem vincada, tanto mais surpreendente quanto rara nestes
tempos hegemónicos em que a formatação e as imitações ditam as regras.
Os caminhos maioritariamente electrónicos que trilham são contaminados
por um espírito pop de desolação que se associa a uma ideia de
portugalidade que não passa apenas, bem pelo contrário, pela utilização
da língua portuguesa: o recurso a sons e ambientes, a estados de
espírito, que são património do nosso inconsciente colectivo e que
imediatamente reconhecemos como nossos, mesmo que os não consigamos
identificar ou isolar. A música dos Ermo é exemplar na forma como uma
electrónica minimalista e despojada consegue criar a suficiência sonora
para uma voz projectada que deve muito ao canto popular ibérico e que
ora grita ora tece malabarismos melódicos dificilmente esquecíveis – com
“Correspondência”, o tema escolhido para single, a ser paradigmático
desta capacidade em construir impérios melódicos a partir de quase nada.
São cantos da terra, não no sentido de música rural ou tradicional, mas
no da sua acepção mística em que, a par do fogo, da água e do ar, ela
surge como elemento primordial, encerrando em si grande parte dos
mistérios da existência. E se é um mistério a individualização e
sobrevivência de Portugal enquanto nação secular, contra todas as
evidências e as lógicas mais sensatas, não deixa também de o ser a
competência e a imaginação necessárias para a concepção de um bom disco –
como este “Vem Por Aqui”!
Por Adolfo Luxúria Canibal.
25 November 2013
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