Desde os finais de 2008 que estes 5 jovens alentejanos se juntam numa quinta nos arredores de Évora para ensaiar.
Entre pavões que levitam sobre os amplificadores e as frequentes chuvas
de palha advindas da quinta vizinha, os Uaninauei vão escrevendo
canções.
Todos passaram por
inúmeras bandas, com milhares de quilómetros na estrada do
super-underground musical português, e é já perto dos trintas, a idade
em que a maioria decide pendurar as guitarras nas paredes, passando
estas de instrumentos músicais a mobília, estes 5 rapazes decidem formar
uma banda. Decidem também dar-lhe um nome difícil – Uaninauei.
O
mito conta que o nome aparece numa piada interna que todos já tinham
tocado em bandas com refrões que diziam “running away”, o que misturado
com a má pronúncia e o péssimo inglês da escrita,soava a “uaninauei”,
numa espécie de leitura fonética simplificada.
As pessoas,
quando envelhecem, tendem a deixar de acreditar que é importante o que
têm a dizer. Mas não se deve abdicar da liberdade de expressão por
motivo algum. É nessa liberdade que os Uaninauei trabalham. Todos trazem
ideias, todos indicam direcções de escrita, todos carregam colunas e
amplificadores, e todos têm o mesmo direito de palavra e melodia.
Como uma mini-anarquia posta em prática, onde não há uma rejeição de
leis, há sim uma ausência delas. Seguindo o instinto e o gosto de cada,
fazem-se canções como Betoneira (a primeira) e Cantiga de um Ladrão (a
última a ser escrita para o álbum), onde se percebe um confronto
permanente com os excessos da modernidade, o ter virtual de mãos vazias,
e a abstracção das gerações em que os 5 Uaninauei cresceram perante a
vida em sociedade.
Mas aparte todos estes devaneios, Lume de
Chão é um álbum que soa coeso mas com alguma loucura, um rock musculado
com palavras inconvientes e melodias que não soam indiferentes. De
Chamas em Mim (o single de apresentação deste trabalho de estreia) a
Cantiga do Ladrão (que será o segundo single), de Circos a Arder a
Balada do Cavalo (com o seu surpreendente coro alentejano), os Uaninauei
apostam em várias frontes com alguma ambição de chegar ao rock
progressivo mas sem perder o formato canção.
É um álbum de estrada,
de abanar a cabeça e tentar pensar ao mesmo tempo, de desafio e conforto
melódico. Mas tenho a certeza que a sua audição continuada será muito
mais clara que este texto.